O ORACULO
DO
PASSADO, DO PRESENTE E DO FUTURO
OU O
Verdadeiro modo de aprender no passado a prevenir o presente, e a adivinharo futuro
POR
BENTO SERRANO
ASTROLOGO DA SERRA DA ESTRELLA,
Onde reside ha perto de trinta annos, sendo a sua habitação uma estreitagruta que lhe serve de gabinete dos seus assiduos estudos astronomicos
Parte primeira—O ORACULO DA NOITE
Parte Segunda—O ORACULO DAS SALAS
Parte Terceira—O ORACULO DOS SEGREDOS
Parte Quarta—O ORACULO DAS FLORES
Parte Quinta—O ORACULO DAS SINAS
Parte Sexta—O ORACULO DA MAGICA
Parte Setima—O ORACULO DOS ASTROS
PORTO
LIVRARIA PORTUGUEZA—EDITORA
55, Largo dos Loyos, 56
1883
PARTE SETIMA
O ORACULO DOS ASTROS
OU
A verdadeira arte de conhecer os segredos dos Astros pela regular rotação, epelos signaes que se observam de noite e dia durante as quatro estações do anno
PORTO
LIVRARIA PORTUGUEZA—EDITORA
55, Largo dos Loyos, 56
1883
Porto: 1883—Imprensa Commercial—Lavadouros,16.
A astronomia na antiguidade.—É antiquissima esta sciencia e pareceque aos pastores do Himalaya se devem as primeiras observações astronomicas,unicamente fundadas nos movimentos apparentes dos corpos celestes, e nosphenomenos que mais impressionavam a imaginação do homem, taes como a passagemdos planetas atravez das constellações, as estrellas cadentes, os cometas, oseclipses, etc. Como não podia deixar de ser, todas as theorias de então,fundadas em apparencias falsas, eram falsas tambem, tendo sido modificadas ecorrigidas gradualmente, segundo o exigia o caminhar progressivo das outrassciencias. A primeira hypothese consistia em imaginar a Terra rodeada de aguapor todos os lados, hypothese{4} que ainda existia notempo de Homero, pois que então acreditava-se que o Sol se apagava aomergulhar no Oceano, reaccendendo-se no dia seguinte depois de demorado banho.Os astronomos gregos, ha dois mil annos, julgavam que as estrellas eram chammasalimentadas pelas exhalações da Terra!
Todavia, quando se observou que o Sol, a Lua, as estrellas e os planetas, seescondiam todos os dias no horizonte, surgindo no immediato do lado opposto,força foi admittir que passavam sob a Terra,—e d'aqui uma revolução immensa,completa, na maneira de considerar o nosso planeta, que até então o homem tinhacomo solidamente assente debaixo dos pés, prolongando-se até ao infinito. Paraexplicar aquella passagem, inventaram-se hypotheses sobre hypotheses, quald'ellas mais extraordinaria, qual d'ellas mais absurda. Um deu á Terra a formade meza circular sustentada por doze columnas, outro a de uma cupuladescançando em cima de quatro gigantescos elephantes de bronze, etc., etc.; masnada d'isto satisfazia o espirito. Columnas e elephantes, a seu turno, sobreque é que descanç