Da Academia das Sciencias de Lisboa
LIVRARIA CHARDRON,de Lélo & Irmão, editoresRua das Carmelitas, 1441916
Da Academia das Sciencias de Lisboa
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A propriedade literária e artística está garantida em todos os paísesque aderiram à Convenção de Berne—(Em Portugal, pela lei de 18 da marçode 1911. No Brasil pela lei n.° 2577 de 17 de janeiro de 1912).
Porto—Imprensa Moderna
O lindo thema—A Mulher Portugueza—attraíu-me pelo seu encanto, masprejudica-o, a par da fraqueza da palavra, o defeito de ter de obedecera uma curva, que se retesa e quasi estala nos limites apertados d'umaconferencia. Ouvi-me, pois, mães, esposas, filhas, mulheres queridas,que viveis dentro de corações e no coração trazeis sempre uma imagem,com a benevolencia, que deve sempre amantelar um amigo e um defensor. Nofertil poema, por onde a vossa alma transita atravez de almas,procurarei colher a graça e o perfume para a expressão dos meussentimentos, attenuando com este valioso recurso os males de que façopadecer tão brilhante assumpto.
Resultado para que se encaminha o contínuo esforço do homem, causa dasua actividade e aspiração do seu espirito, é a mulher quem, com agrandeza do infinito bem, ou a grandeza do infinito mal, nos conduz pelavida fóra numa ascenção gloriosa, ou numa derrocada tragica. Por ella ohomem crê, por ella descrê, por ella assassina, por ella morre. Altar ehostia, tortura e guilhotina, faz-nos viver a vida tal qual a dôrsurriba a alegria, a punhalada espirra o sangue e os labios guardam osdentes. Mas nas suas epopeias sublimes e nas suas elegias tremendassurge-nos como a confissão palpavel da energia e da bondade divinas.Hymno e oração do amor, canta-lhe as alegrias e reza-lhe as tristezas;alma da bondade, aroma da ternura e lagrima da dôr, torna-se emexplicação religiosa, bella e harmonica da vida humana. Assim realisadae assim realisando, Deus desce até á mulher, o homem sobe até ella.Encontram-se no seu coração e beijam-se.
A Shakespeare ligaram um espirito—um andador, e a Socrates, outroespirito—o demonio, porque só pela interferencia do sobrehumano lhesadmittiam as concepções. Não deve, portanto, causar reparo dizer-se quea mulher tem sido sempre, e sempre será, o espirito familiar do homem.O que elle produz de grande é ella quem lh'o inspira, o que parece iralém das suas forças vem da força que ella irradia. A ingratidão dohomem para com a mulher tem sido, porêm, enorme. Não passa sem ella ediz mal d'ella. Da antiguidade ao dia de hoje, os libellos accumulam-secom uma injustiça que apavóra. Euripides põe na boca de Hippolyto asmais flagelladoras apostrophes, que alguma vez contra ella foramproferidas. Affirma que tudo quanto o homem tem de mau vem da mulher eexclama: «Porque—ó deuses immortaes!—não foi dado ao homem o poder degerar o homem de uma pedra, de um pedaço de ouro, de um tronco de arvoree não de um ventre de mulher?» Aristophanes, por intermedio deMnesiloco, nas Festas de Céres <