APONTAMENTOS
PARA A
BIOGRAPHIA
DO CIDADÃO
JOSÉ DA SILVA PASSOS.
POR
O SEU AMIGO PARTICULAR E POLITICO
Alg. Sidney C. R. C.
PORTO:
NA TYPOGHAPHIA DE S. J. PEREIRA,
Praça de Santa Theresa n.º 28.
1848.
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O Opusculo==Os dois dias d'Outubro, ou a historia da prerogativa, por D.João d'Azevedo==contém tantas inexactidões ácerca da resistencia nestaheroica cidade, começada no dia 9 d'Outubro de 1846, e da guerra civilterminada pela convenção de Gramido de 29 de Junho de 1817, que pararestabelecer a verdade dos factos, e supprir as muitas lacunas, que naquellefolheto ha, faz-se mister, que algum escriptor patriota se apresse a escrever ahistoria circumstanciada e verdadeira daquella tão notavel revolução.
Não vamos tão longe como muitos Portuenses de todas as côres politicas, osquaes consideram o escripto do Snr. D. João como um romance. Alguma cousa sepoderá delle aproveitar para a historia, ainda que não seja senão a maneiracomo elle viu e observou as cousas publicas.{4}
Apesar de ter estudado a fundo o caracter de cada um dos membros queformaram a Junta Provisoria do Governo Supremo do Reino em nome da Nação e daRainha, foi o habil escriptor tão infeliz, que, depois, da inexactissimarelação dos acontecimentos do dia e noite de 9 d'Outubro de 1846, nada tem,pela parcialidade, dissemelhança, e exageração, desagradado tanto, como o juizocontido no capitulo 2.º a respeito de cada um dos seis cavalheiros que servirama causa da liberdade do paiz naquella melindrosa crise.
Resolvemos-nos por isso a colligir esclarecimentos biographicos dos membrosda Junta do Porto, para habilitar os que emprehenderem escrever a historiadella, a poder com conhecimento de causa distribuir a responsabilidade dosacontecimentos e dos actos governativos. Começamos a publicar os relativos aoSnr. José da Silva Passos, não só porque foi elle o primeiro author do feito de9 d'Outubro de 1846, mas porque é aquelle a quem o Snr. D. João mostra melhorvontade.
Seria grande hypocrisia em nós, se não declarassemos que temos relaçõesd'amizade e fraternidade politica com o Snr. José Passos, e que pertencemosáquella secção do partido progressista, que reconhece por seu chefe o Snr.Passos Manoel, nosso Grão Mestre-politico. Nosso intento é todavia narrar comsevéra imparcialidade, e verdade, os acontecimentos que observamos,—e aopublico apresentarmos um juizo recto do proceder e serviços dos homens que emOutubro de{5} 1846 foram encarregados da nobre missãode fazer triumphar a causa da liberdade Portugueza, e promover a felicidadedeste povo tão virtuoso.
Não somos litterato, nem escriptor publico. É a primeira vez que atiramos áimprensa com o que escrevemos. Se contra a nossa expectação houverem alguns,que julguem que os acontecimentos não são em nosso escripto relatados comescrupulo, exactidão, e verdade; e se os retratos não forem parecidos, não virád'ahi grande mal; porque terão esses só mais outro romance para encadernar como dis