Produced by Rita Farinha and the Online Distributed

Proofreading Team. The images for this file were generouslymade available by Biblioteca Nacional Digital(http://bnd.bn.pt).

UM MEETING NA PARVONIA

UM MEETING NA PARVONIA

POEMETO ESCRIPTO N'UM CANTO

LISBOATYP.—LARGO DOS INGLEZINHOS, 27, 1.^o1881

I

Oh! Musa sacripanta dos Vardascas,
Onzeneira, bulhenta, peralvilha,
Bachante de bordeis, deusa de tascas,
De Momo e da Discordia a vêsga filha,
Empresta-me o teu estro, põe-me em lascas,
Regateira infernal, vil farroupilha,
A mente, e, qual fusil na pederneira,
Accende-m'a com chamma de fogueira.

II

Preciso de fatal inspiração,
Não bebida na fonte de Hypocrene,
Como o enfermo que em grave indigestão
Carece vomitar, ou tomar séne.
Acode-me com o estro de febrão,
Que delire em linguagem torpe, infrene.
Oh! Musa, qual Medéa ardendo em furias,
Incita-me ás poeticas luxurias.

III

Dá-me influxo mordaz, horripilante,
Como outr'ora abrasou um Aretino,
Esse fogo infernal, que teve o Dante,
Ou a graça sequer de Tolentino;
Mas tu, oh! Musa reles, e farçante,
Não me entruges o plectro de mofino;
Se me negas o dar-me engenho e arte,
Nem mais um decilitro hei de pagar-te.

IV

E seja o canto meu feroz, medonho,
Que similhe ao uivar do voraz lobo,
Ao crocitar dos corvos; enfadonho
Como o sorrir alvar de informe bobo,
Que a tratar o assumpto, que proponho,
Requer-se petulancia, e tal arroubo,
Que o leitor, deliquido n'um desmaio,
Me pareça assombrado pelo raio:

V

—N'um domingo de março, pela estrada
Que de Arroyos conduz á Panasqueira,
Vão magotes de povo de ranchada
A provar o bom vinho, e a petisqueira
Do louro peixe frito e da salada,
Que na Perna de Pau a taberneira
Lhes prepara; e com litros, comesanas,
De lá voltam com grandes carraspanas.

VI

Já burbulham as arvores, e as flores
Engrinaldam os prados de Flora;
As aves gorgeando os seus amores
Alternam o chiar da triste nora.
Correm montes e valles caçadores
Co'as matilhas de cães, mas em má hora,
Que as pintadas perdizes e coelhos
Levam ventos nas azas, nos artelhos.

VII

O dia estava brusco, e os pardaes
Chilreiam festejando o solsticio
Da vital primavera; nos curraes
Muge a vaca saudosa ao beneficio
Da pavêa; espirram os catharraes.
O povo é convidado p'ra um comicio,
Onde avido concorre p'ra tratar
D'uma ideia, que ha muito anda no ar.

VIII

Bôa gente de artistas, operarios,
Crestada pelas lavas do trabalho,
Vivendo das migalhas dos salarios
Que do fisco escaparam; rebotalho
Condemnado a subir asp'ros calvarios,
Que busca naipe ser no vil baralho,
D'onde querem tirar valet

...

BU KİTABI OKUMAK İÇİN ÜYE OLUN VEYA GİRİŞ YAPIN!


Sitemize Üyelik ÜCRETSİZDİR!